sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O papel da rotina na vida das crianças

Bebês têm necessidade de sentir seu ambiente previsível. A rotina funciona como uma espécie de moldura que organiza os três grandes domínios: o físico, o psicológico e o social, auxiliando a psíquica. Nos primeiros meses de vida, as crianças ainda não possuem maturidade neurológica e psicológica para suportar inconstâncias. Por isso, muitas mudanças externas podem gerar experiências precoces de instabilidade. Não precisamos imprimir mudanças no dia a dia da criança, porque já existe um movimento intenso da natureza em cada uma. Ela por si só vive uma interessante transformação no seu corpo, na sua percepção e na capacidade de se locomover. A rotina prepara a criança e ajuda no desenvolvimento da confiança e perseverança, qualidades imprescindíveis para uma futura autonomia.

Escola e família são uma das parcerias mais produtivas. Se uma instituição escolar tem como valor o cumprimento de certas rotinas e a família não compartilha, ou vice-versa, podem ser gerados na criança sentimentos de confusão, dúvidas e desconfiança. A escola, dependendo da sua orientação e da formação do seu corpo docente, tem competência para orientar a melhor maneira com que a família pode dar continuidade ao trabalho. Porém, é importante deixar claro que a escola não é responsável sozinha pelo desenvolvimento das crianças. Enfatizo que o papel da família é intransferível, isso não quer dizer que não seja possível fazer parcerias e receber orientações. As ações serão mais significativas quanto maior for o envolvimento da família.

A rotina é um dos pilares para o desenvolvimento da autonomia das várias áreas do desenvolvimento infantil. Vale lembrar que uma rotina adequada vem acompanhada de afeto e flexibilidade, mas não é preciso usar de rigor em detrimento das vivências de afetividade e espontaneidade entre as crianças e seus cuidadores. Sabemos que disciplinas duras, rigorosas e inflexíveis não necessariamente criam indivíduos comprometidos e autônomos, o mesmo ocorre com rotinas por demais permissivas. Qualquer extremo contribui para o aparecimento na criança, no adolescente e nos futuros adultos, de insegurança, medo e desconfiança quanto à própria capacidade de dar conta da vida. A rotina na medida adequada gera referência à criança. Depois o adolescente vai aprendendo quanto pode, em alguns momentos, modificar aquilo que lhe foi ensinado pelos seus pais e professores.

Quanto mais os bebês se desenvolvem, maior a conquista da independência e, portanto, mais de olho é preciso estar. Crianças a partir de um ano iniciam movimentos mais autônomos, a marcha fica mais firme, a verbalização é maior e, assim, a curiosidade e a descoberta vão ganhando complexidade. Na realidade, criar rotina para crianças em qualquer fase exige que os adultos também sejam pessoas com uma adequada relação com a rotina. Não existe fácil ou difícil, cada momento requer um tipo de cuidado, assim como cada criança tem seu ritmo de adaptação. Podemos comprovar isso desde o nascimento. Alguns bebês se adaptam mais rapidamente ao ritmo das mamadas, outros demandam maior flexibilidade por parte da mãe.

No caso da berçarista, ele consegue manter uma rotina, desde que exista um bom planejamento e orientações coerentes de quem a contratou. É importante ressaltar que as pessoas escolhidas para a função precisam ter equilíbrio emocional, formação adequada, não só intelectual, mas, e principalmente, formação pessoal. É esse conjunto que mantém uma boa rotina. As berçaristas são pessoas crucias, com ela, além da família, laços afetivos serão construídos, e esses serão o melhor meio de comunicação, por onde informações importantes serão passadas e transformadas em hábitos. Não se educa pela razão, apenas. Educa-se, principalmente, pela qualidade do afeto. A qualidade de vida inicia-se desde a concepção, quando os pais recebem seu filho com prazer, comprometimento, alegria e celebração.
FONTE: Blenda Oliveira. Revista Mente&Cerebro

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