domingo, 25 de outubro de 2009

Estimular desenvolvimento motor infantil


O desenvolvimento motor é considerado como um processo seqüencial, contínuo e relacionado à idade cronológica, pelo qual o ser humano adquire uma enorme quantidade de habilidades motoras, as quais progridem de movimentos simples e desorganizados para a execução de habilidades motoras altamente organizadas e complexas.
Inicialmente, acreditava-se que as mudanças no comportamento motor refletiam diretamente as alterações maturacionais do sistema nervoso central.
Hoje, porém, sabe-se que o processo de desenvolvimento ocorre de maneira dinâmica e é suscetível a ser moldado a partir de inúmeros estímulos externos.
A interação entre aspectos relativos ao indivíduo, como suas características físicas e estruturais, ao ambiente em que está inserido e à tarefa a ser aprendida são determinantes na aquisição e refinamento das diferentes habilidades motoras.
Diversos fatores, porém, podem colocar em risco o curso normal do desenvolvimento de uma criança. Definem-se como fatores de risco uma série de condições biológicas ou ambientais que aumentam a probabilidade de déficits no desenvolvimento
neuropsicomotor da criança.
Dentre as principais causas de atraso motor encontram-se: baixo peso ao nascer, distúrbios cardiovasculares, respiratórios e neurológicos, infecções neonatais, desnutrição, baixas condições sócio-econômicas, nível educacional precário dos pais e prematuridade.
Quanto maior o número de fatores de risco atuantes, maior será a possibilidade do comprometimento do desenvolvimento. O desenvolvimento motor atípico não se vincula, obrigatoriamente, à presença de alterações neurológicas ou estruturais. Mesmo crianças que não apresentam seqüelas graves podem apresentar comprometimento em algumas áreas de seu desenvolvimento neuropsicomotor. Estudos descrevem prejuízos mais comumente ligados à memória, à coordenação
visomotora e à linguagem. Neste sentido, crianças com desenvolvimento motor atípico, ou que se apresentam com risco de atrasos, merecem atenção e ações específicas, já que os problemas de coordenação e controle do movimento
poderão se prolongar até a fase adulta. Além disso, atrasos motores freqüentemente associam-se a prejuízos secundários de ordem psicológica e social, como baixa auto-estima, isolamento, hiperatividade, entre outros, que dificultam a socialização de crianças e o seu desempenho escolar. Assim, as ações preventivas ou corretivas sobre os desvios do desenvolvimento dependem do conhecimento acerca da seqüência normal e regular das aquisições motoras, que consistirá na base para
a elaboração de propostas adequadamente adaptadas à situação de cada criança. O período em que a intervenção é proposta também deve ser considerado.
Nos primeiros anos de vida (primeiros 12 a 18 meses) existe uma maior plasticidade cerebral, o que possibilita a otimização de ganhos no desenvolvimento motor. Nessa perspectiva, diversas pesquisas demonstraram haver melhora da aquisição de habilidades motoras em crianças que receberam estimulação precoce.

Aline Willrich, Camila Cavalcanti Fatturi de Azevedo, Juliana Oppitz Fernandes. Desenvolvimento motor na infância: influência dos fatores de risco e programas de intervenção. Rev Neurocienc 2008:in press

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Diagnóstico e tratamento de TDAH em crianças escolares, segundo profissionais da saúde mental.



O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) há muitas décadas, vem sendo objeto de estudo de pesquisadores principalmente das áreas de Psicologia, Educação e Medicina. Nos últimos 20 anos, de acordo com a Academia Americana de Pediatria, os critérios de diagnóstico e tratamento desse Transtorno foram revisados em várias ocasiões (AAP, 2000). O DSM IV, Manual Estatístico e Diagnóstico publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, define o TDAH como um problema de saúde mental, considerando-o um distúrbio bidimensional, que envolve a atenção e a hiperatividade/impulsividade (DSM-IV, 1994). Ademais, a Academia Americana de Pediatria o considera o transtorno neurocomportamental mais freqüente na infância (AAP, 2000).
O TDAH é um diagnóstico clínico fundamentado na presença de sintomas comportamentais determinados pelo DSM-IV e, portanto, é importante reconhecer as limitações do mesmo. A própria AAP afirma, em seu Guia Prático, que a maioria dos testes e avaliações foi desenvolvida em ambientes psiquiátricos e pouco se sabe sobre o seu uso por pediatras e médicos generalistas (AAP, 2000). Os critérios de DSM-IV permanecem como um consenso sem dados empíricos claros que justifiquem o número de itens requisitados para o diagnóstico de TDAH. Além disso, segundo a AAP (2000), os critérios não diferenciam os gêneros nem valorizam as variações de desenvolvimento comportamental. Em função da complexidade do diagnóstico do TDAH, recomenda-se que os profissionais utilizem em seu julgamento clínico os critérios do DSM-IV juntamente com informações obtidas junto aos pais e professores, buscando conhecer o comportamento da criança em diferentes contextos, seu desempenho acadêmico, seu rendimento escolar em relação à sua idade cronológica e série escolar, suas relações sociais e familiares, seus interesses, suas habilidades, sua autonomia e independência na rotina diária do lar, entre outros.
No que concerne ao sexo, as pesquisas mostram que a proporção entre meninos e meninas afetados varia de aproximadamente 2:1, em estudos populacionais, até 9:1 em estudos clínicos (Rohde & Halpern, 2004). Segundo Biederman e cols.(2002), apesar das razões para a aparente subidentificação em meninas não serem claras, as diferenças de gênero na expressão do transtorno podem estar levando ao encaminhamento de mais meninos do que meninas, pela atribuição de hiperatividade ao comportamento típico dos meninos. Os estudos mostram que os meninos, em situação de recreação livre, preferem as brincadeiras e jogos de atividade física mantendo um padrão de atividade motora mais agitada que o das meninas de mesma série escolar e faixa etária (Maccoby, 2000, Souza & Rodrigues, 2002).
O DSM-IV (1994) subdivide o TDAH em três tipos: TDAH com predomínio de sintomas de desatenção; TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade; TDAH combinado. No sexo feminino predominam os sintomas de desatenção que, juntamente com o tipo combinado, acarretam uma taxa mais elevada de prejuízo acadêmico. Um bom desempenho escolar, segundo Benczik (2002), depende, cada vez mais, da criança permanecer sentada e quieta, de longos períodos de concentração e de fazer as lições escolares. Para atender às exigências desse ambiente a criança necessita ter controle e ajustar seu comportamento para responder satisfatoriamente a essas demandas (Ciasca, 2003). Crianças com TDAH têm esse ajuste prejudicado pela falta de controle da impulsividade e, freqüentemente, apresentam em seu histórico escolar registros de suspensão, de expulsão e de reprovação (Ciasca, 2003).

PEIXOTO, Ana Lúcia Balbino e RODRIGUES, Maria Margarida Pereira. Diagnóstico e tratamento de TDAH em crianças escolares, segundo profissionais da saúde mental. Aletheia. [online]. dez. 2008, no.28 [citado 16 Outubro 2009], p.91-103. Disponível na World Wide Web: . ISSN 1413-0394.